CAMPANHA DE VERÃO

Todo mundo pronto para curtir o verão? Isso é fácil. Mas, e para conviver com a conta de luz da mais cara das estações, você também está preparado? Este ano, a conta está ainda mais salgada porque traz embutido o gasto do governo com as termelétricas que foram acionadas para compensar a falta de chuvas, que compromete a geração de energia nas hidrelétricas. Não vai ser fácil. Mas, para ajudar você a economizar energia nesses dias agitados, a Campanha de Verão da Rede Kigali vai trazer informações e dicas valiosas. 

Crise hídrica

Usar a energia de forma inteligente é fundamental não só para poupar seu dinheiro, mas também para ajudar o Brasil a evitar o risco de apagão em 2022 e a contratação de mais termelétricas, o que aumentaria ainda mais a conta em 2022, 23, 24… As chuvas de novembro, felizmente, evitaram o racionamento, mas o nível dos reservatórios das hidrelétricas ainda preocupa porque a mudança climática tem mostrado, ano após ano, que não é passageira. Diante da crise hídrica, o governo brasileiro acelerou na contramão dos esforços mundiais pela redução das emissões de gases de efeito estufa. Não priorizou as fontes de energia solar e eólica para poupar os reservatórios das hidrelétricas e os bolsos dos consumidores, nem a eficiência energética para reduzir a demanda. Ao contrário, comprou energia de usinas térmicas movidas a combustíveis fósseis, que têm custo elevado e aquecem o planeta, o que leva a menos chuva e mais termelétricas. É como um cachorro que corre atrás do próprio rabo. Quem paga por esse desequilíbrio somos nós, consumidores.

A conta vai subir

R$ 0

é o preço das medidas que serão adotadas pelo governo até 2030, estimado pelo Instituto Clima e Sociedade (iCS). Essa soma, que será repassada para a conta de luz, inclui:

R$ 0

em empréstimos para as distribuidoras

R$ 0

do leilão emergencial de outubro

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em despesas criadas pela MP da Privatização da Eletrobras para a construção de térmicas a gás em regiões que não produzem gás, o que vai demandar a construção de gasodutos.

Se o Brasil não promover mudanças estruturais no setor elétrico para melhorar a gestão de crises, o céu é o limite para a conta de luz. As mudanças climáticas não são passageiras, a tendência é que piorem. Por isso é tão importante investir em energias solar e eólica, em tecnologia e na mudança de hábitos para gastar menos energia. Muitas atitudes podem e devem ser tomadas. Ajudar você a fazer essa economia é o objetivo da nossa Campanha de Verão. Vamos lá?

COMO SE CALCULA A CONTA DE LUZ?

Na conta de luz, pagamos basicamente a energia gerada nas usinas, seu transporte até o consumidor, os encargos setoriais e os tributos. Hoje, 67% da energia no Brasil é gerada em hidrelétricas. Por isso, o impacto da falta de chuvas é tão dramático. Com reservatórios baixos, a geração é comprometida e as usinas termelétricas passam a produzir energia por meio da queima de gás natural, diesel ou carvão mineral. São combustíveis muito mais caros e poluentes. Fontes como a eólica, a solar e o biogás estão crescendo no Brasil, mas ainda não dão conta de suprir a demanda em uma crise hídrica como a deste ano.

O transporte da energia até o consumidor é feito em linhas de transmissão (das usinas até as distribuidoras) e de distribuição (das distribuidoras até os consumidores). O consumidor paga tudo isso na conta de luz, e as tarifas geralmente são reajustadas uma vez por ano. Elas variam conforme as bandeiras tarifárias vigentes, que refletem variações do custo da geração de energia a cada mês. 

Com muita chuva, a bandeira é Verde, e não há acréscimo. A Amarela acarreta aumento de R$ 1,874 para cada 100 quilowatt-hora (kWh) consumidos. Na Vermelha, há duas possibilidades. No Patamar 1, a tarifa é acrescida de R$ 3,971 para cada 100 kWh consumidos. Isso acontece quando há uso intensivo das termelétricas. No Patamar 2, as termelétricas são ainda mais usadas, e a tarifa tem acréscimo de R$ 9,492 a cada 100 kWh consumidos. Na atual crise hídrica, foi criada uma bandeira excepcional, a Escassez Hídrica, que chega a R$ 14,20 a cada 100 kWh. Ela começou a incidir na conta em setembro de 2021 e vai até abril de 2022.

Tributos e encargos

Os tributos, que constituem cerca de 28%, são PIS (federal), Cofins (federal), ICMS (estadual) e CIP ou Cosip (municipal), que é um valor de contribuição para custeio do serviço de iluminação pública. A alíquota de cada tributo varia conforme o município e estado e deve ser especificada na conta de luz. 

Nas tarifas de energia estão embutidos os encargos, benefícios concedidos pelo governo para reduzir o preço e incentivar políticas no setor. O principal é a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), que subsidia a universalização do acesso à energia, dá alguns descontos para setores econômicos e a baixa renda, custeia o combustível usado por termelétricas e fomenta as fontes alternativas de energia, entre outras políticas.

Aqui você pode simular gastos, impostos e bandeiras tarifárias.

DIREITOS DO CONSUMIDOR

Se você não está convencido de que a energia elétrica é um serviço essencial, imagine as consequências de sua falta sobre a saúde, a segurança e a qualidade de vida da população. Ao mesmo tempo, a produção de eletricidade a partir de fontes sujas – como derivados de petróleo e carvão mineral – acelera as mudanças climáticas. Por isso, os países vêm se esforçando para atender o item 7 dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ODS 7). Ele visa a garantia do acesso à energia barata, confiável, sustentável e renovável para todos. Quando as políticas públicas ignoram os efeitos das mudanças do clima sobre o setor elétrico, e vice-versa, esse serviço essencial fica sob ameaça. A sustentabilidade também é ameaçada quando não há investimentos robustos em eficiência energética. A eficiência pressupõe estímulos e normatização para que todo consumidor tenha acesso a produtos e processos que usem menos energia entregando o mesmo tipo de serviço. Ou seja, eficiência energética é economia para os consumidores e competitividade no setor produtivo.

Emenda de Kigali

A ratificação da Emenda de Kigali é uma das alternativas mais simples de o país contribuir com os esforços contra as mudanças do clima. Até novembro de 2021, 129 países já haviam se comprometido a substituir gases refrigerantes com elevado potencial de efeito estufa nos aparelhos de ar condicionado e de refrigeração em geral. Para você ter uma ideia, o potencial de efeito estufa dos hidrofluorcarbonos (HFCs) pode ser até 15 mil vezes superior ao do gás carbônico, principal gás de efeito estufa. Os HFCs ainda são os fluidos refrigerantes mais usados nos ares-condicionados brasileiros. 

Os equipamentos alinhados com a Emenda de Kigali são mais eficientes do que os comercializados hoje no Brasil. São duas imensas vantagens para a população em uma mesma política pública, da qual o Brasil se mantém afastado. Só dois países do mundo nem sequer demonstraram interesse em receber as verbas da ONU para a atualização tecnológica de sua indústria: o Iêmen e o Brasil.

Eficiência energética

O Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia) usa etiquetas coloridas e letras para classificar os aparelhos conforme o consumo de energia. É a Etiqueta Nacional de Conservação de Energia (ENCE), que ajuda o consumidor a escolher equipamentos mais eficientes. Essa classificação precisa ser revisada de tempos em tempos, mas isso ficou sem acontecer com os refrigeradores de 2016 até 2 de agosto de 2021, quando entrou em vigor a nova portaria com a atualização da etiquetagem. Durante boa parte desses 15 anos, muitos que tinham a etiqueta A deveriam ser B, C ou até mesmo D e E. 

A nova etiqueta é bem menos rigorosa do que a proposta feita pela Rede Kigali ao Inmetro. Se o Brasil tivesse seguido as recomendações da ONU para etiquetagem de geladeira, pouparia o dobro dos 1,1 GW que economizará até 2030 com a portaria aprovada. Mas a revisão não deixa de ser um avanço após 15 anos de atraso. Você deve observar as etiquetas do Inmetro e o Selo Procel ao escolher uma geladeira, um ar-condicionado ou outros eletrodomésticos. Aqui você pode comparar os aparelhos e acessar informações sobre a melhor forma de usá-los para esticar a vida útil de cada um e economizar na conta de luz. 

A economia estimada de US$ 1 bilhão mostra porque a promoção da eficiência energética deve ser prioridade, a nível presidencial e de ministros de Estado, na política e no planejamento energéticos. É também um instrumento fundamental de política industrial, como há muito tempo descobriram os países tecnologicamente avançados.

Dicas de economia

Mudar alguns hábitos e atitudes do dia a dia ajudam (e muito!) a diminuir o gasto de energia 

Chuveiro

Coloque o chuveiro elétrico no modo morno ou verão nos dias quentes e reduza o tempo do banho. Isso também poupa água. Chuveiros com mais opções de temperatura permitem maior controle do gasto. Antes de comprar, pesquise, compare e veja o melhor custo benefício. Se puder, troque a energia elétrica pela solar. O uso do aquecimento solar de água, por exemplo, economiza em até 80% o consumo de eletricidade dos banhos.

Geladeira

Abrir e fechar a porta da geladeira sem necessidade? Não pode! Mantenha a geladeira afastada 10 centímetros da parede. Isso aumenta o espaço de circulação do ar quente que sai da geladeira e ajuda a reduzir a energia consumida. Evite colocar comida quente dentro da geladeira. Dessa forma, o aparelho não fará tanto esforço para gelar a comida e gastará menos energia. Vai viajar por muito tempo? Desligue a geladeira da tomada!

Ar-condicionado

Ao comprar ar-condicionado preste atenção se vem com o Selo Procel, que indica menor consumo. Os aparelhos inverter são um pouco mais caros, mas são garantia de uma economia de eletricidade que chega a 60%. O ar-condicionado deve ser mantido em torno dos 23°C, assim você terá um ambiente mais fresco, com menos gastos. Ao sair ou ficar muito tempo fora do ambiente, desligue o aparelho.

Roupas

Acumule roupas para passar e evite usar o ferro junto com o chuveiro elétrico. Use a temperatura indicada para cada tipo de tecido. Junte grande quantidade de roupas também na hora de lavar e use a lavadora e a secadora sempre na capacidade máxima.

TV

Você não precisa abandonar aquela soneca gostosa da tarde que começa com a TV ligada. Programe-a para desligar sozinha após determinado tempo. Se sua TV ficar com a luz do botão ligar acesa mesmo após desligada (stand-by), tire ela da tomada; mesmo essa pequena luz gasta energia.

Aspirador de pó

Limpe com frequência o filtro do aspirador de pó. Vazio, o filtro dá mais potência ao aparelho que suga a poeira sem gastar muito. Alterne as velocidades e acessórios do seu aparelho, se ele possuir esses itens, para limpar os diferentes tipos de superfícies e locais.

Lâmpadas

Troque as lâmpadas fluorescentes por LED, que gastam em média 45% a menos de energia. E nada de deixar lâmpadas acesas ao sair do cômodo.

Cozinha

Preste atenção ao tempo de uso de aparelhos elétricos como forno, fritadeira e churrasqueira. Esses equipamentos gastam muita energia. Prefira o fogão e o forno a gás para o preparo de alimentos mais demorados.

Nossa Campanha de Verão tem muito mais dicas para você. Não deixe de nos acompanhar nas redes sociais e compartilhar nossas mensagens:

A Rede Kigali

A Rede Kigali tem como propósito promover a eficiência energética como um instrumento para atingir múltiplos benefícios para a sociedade brasileira e para o consumidor. A eficiência energética, e as políticas e os mecanismos que a promovem são tratados pela Rede Kigali não como um fim em si mesma, mas como um meio com diversos objetivos, entre eles oferecer para os consumidores aparelhos mais baratos e mais econômicos no consumo de eletricidade e dinamizar os setores econômicos envolvidos com a realização de investimentos em inovações tecnológicas, geração de emprego, aumento da produtividade e competitividade. A Rede Kigali é composta pelo Instituto Clima e Sociedade (iCS), International Energy Initiative – IEI Brasil, Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), consultoria Mitsidi Projetos, Projeto Hospitais Saudáveis (PHS), rede de jovens Engajamundo e CLASP.